A liturgia da Palavra neste domingo dá continuidade ao tema “Jesus, o pão que dá a vida”. É a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida que se prolongará durante os próximos domingos. A introdução é apresentada na 1ª Leitura do Antigo Testamento, que fala sobre a intervenção de Deus em favor dos israelitas em situação de escassez de alimentos no deserto, fazendo cair no acampamento o maná e as codornizes para o sustento de todos.
No Evangelho, depois da multiplicação dos pães, o povo foi atrás de Jesus; tinha visto o milagre, comeu com fartura e queria mais! Procurou o milagroso, mas não buscou o sinal e o apelo de Deus que Nele se escondia. Quando Jesus encontrou o povo em Cafarnaum, teve com ele uma conversa, o chamado ‘Discurso do Pão da Vida’ (Jo 6, 26-35). O povo viu o que aconteceu, mas não chegou a entendê-lo como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Buscou pão e vida, mas parou na superfície: a fartura de comida. Com frequência, a existência humana parece uma corrida em busca daquilo que nos sacia de um modo definitivo. Nesta corrida, entram elementos com que estamos familiarizados: carência, ansiedade, vazio, busca, insatisfação…. Todos eles, à primeira vista, remetem à percepção de nós mesmos como seres carentes. Seria, pois, essa carência aquela que desencadearia todo o processo de busca. De fato, o ser humano é um ser insaciável, insatisfeito… vive eternamente buscando, muitas vezes sem saber o quê. Em contato com o seu interior, sente a necessidade de preenchê-lo a qualquer preço; na maioria das vezes, preenche-o com “coisas”: busca de poder, posses, prestígio, pão que se perde… e sente-se frustrado, porque nada lhe satisfaz. Só o Pão vivo pode preencher seu interior.. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, o ser humano necessita da autotranscedência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos… Na conversa de Jesus com o povo ele procura abrir os olhos das pessoas para que aprendam a ler os acontecimentos e descubram neles o rumo que deve tomar na vida. Pois não basta ir atrás de sinais milagrosos que multiplicam o pão para saciar uma carência corporal.
Não só de pão vive o ser humano. Vem a propósito a admoestação de São Paulo na 2ª Leitura: “Irmãos, eis porque eu digo e atesto no Senhor: “não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada…, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade”. Jesus quer dar a entender o verdadeiro alcance de suas palavras e anuncia: “Eu sou o Pão da Vida; quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (Jo 6, 35). Impossível agora o equívoco: o Pão da Vida, Pão de Deus descido do céu para dar vida ao mundo é Cristo! Quem vai a Ele e dele se alimenta, de sua Palavra e da Eucaristia com viva fé, não terá mais fome, não mais terá sede!
