LITURGIA / ANO C – 2º DOMINGO DA QUARESMA – 17/MAR/2019

* Subir à Montanha e descer ao Vale de nossa vida! *


1a Leitura - Gn 15,5-12.17-18.

2a Leitura - Fl 3,17-4,1.

Evangelho - Lc 9,28-36.

Na Quaresma, Deus quer tirar-nos de nossos esconderijos e miopias, às vezes presentes na rotina diária, para levantarmos os olhos para o alto como fez Abraão ao ouvir a Palavra de Deus: ”Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz… Pois bem, assim será a tua descendência” (1ª leitura).

Podemos estar por demais submersos nas coisas do mundo vivendo como ‘aqueles que só têm prazer no que é terreno’ (Fl 3,19), como fala São Paulo na 2ª leitura. Mas, na sequência, o apóstolo exorta: “Nós, porém, somos cidadãos dos céus de onde aguardamos nosso salvador Jesus Cristo que transformará nosso corpo perecível, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Tal anúncio prefigura a cena evangélica da transfiguração (Evangelho da missa).

De fato, diante do olhar assombrado dos discípulos no Monte Tabor, ocorre a transfiguração de Jesus que é então revelado como o Filho Unigênito do Pai: “Este é o meu Filho muito amado!” Como “filhos e filhas de Deus em Cristo, somos também muito amados”, o que equivale a reconhecer nosso potencial de nos tornarmos transfigurados em Cristo.

Transfiguraré deixar transparecer toda essa riqueza interior. E isso não é fácil no mundo real. Vivemos com frequência uma quantidade de experiências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação (ativismo, rotina, angústias, trabalho sem sentido; mundo fechado, sem horizontes, sem direção…) e isso nos “desfigura“, desumanizando-nos. Também Jesus, o homem dos “Vales” (lugar do compromisso, serviço...) sabe reservar momentos de Montanha (comunhão e escuta do Pai). Ali Ele busca sentido e força para a sua missão. Como seguidores de Jesus, devemos saber criar em nossas vidas, espaço e momentos de Montanha (plenitude, silêncio, interioridade, escuta, discernimento). Isso possibilita um compromisso duradouro no “Vale da vida”. Subir à Montanha nos permite ver os horizontes e perceber se estamos caminhando na direção certa. Deste modo se torna possível, dentro do ritmo de nossas atividades diárias, descobrirmos novos rumos e novas decisões.

Na Montanha somos olhados por Ele em profundidade e esse olhar revela nossa verdade mais original. A Montanha nos faz perceber, a partir do alto, certos aspectos do Vale que passam desapercebidos. Permanecer no Vale, sem ter momentos de Montanha, é fechar-se, cair na rotina, não perceber novos horizontes, não abrir a cabeça e o coração, não ampliar a visão das coisas, da realidade, da história…

A experiência da Montanha não é para lá permanecermos, isolados e acomodados, mas para “descer” ao Vale da vida cotidiana com todos os seus desafios e viver ali o que vimos junto com Deus, a partir de uma atitude de bondade, compaixão e serviço.

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