LITURGIA / ANO C – 1º DOMINGO DA QUARESMA – 10/MAR/2019

Jejuar é abrir espaço interior para a graça de Deus!


1a Leitura - Dt 26,4-10

2a Leitura - Rm 10,8-13

Evangelho - Lc 4,1-13: “Nem só de pão vive o homem.”

Antigamente, alguém afetado por uma doença infecciosa era colocado “em quarentena” para observar a evolução de seu estado de saúde física para o bem ou para o mal. O mesmo pode se aplicar à nossa saúde espiritual que por vezes precisa ficar de quarentena, sabendo que vive oscilando continuamente entre a graça e o pecado. Nesse sentido, a Igreja tem no tempo da quaresma uma quarentena propícia para a alma se fortalecer aprofundando a união com Cristo.

Caminheiros somos, como foi o Povo de Deus rumo à Terra Prometida, hoje num deserto diferente povoado de desafios que podem atrofiar a visão e nos colocar à margem do caminho, mas também um deserto com sinais da presença de Deus. O tempo da quaresma é para nós cristãos tempo privilegiado para retomar o ritmo da caminhada, esvaziar nossas mochilas do supérfluo, reabastecer-nos do essencial, retomar as metas discernidas e assumidas diante de Deus. A oração, a esmola e o jejum, são as três atitudes mais características do tempo da Quaresma. E nem sempre valorizadas como merecem em nossa existência. A oração é adentrar-nos em nosso interior para aí fazer-se ouvir a voz de Deus, como outrora fizera o povo do Antigo Testamento (1ª Leitura).

E se ouvimos sua voz, nossa vida tomará um estilo diferente, para que a fé que professamos com a boca, penetre em nosso coração (2ª Leitura). Quando a oração é levada a sério, podemos prescindir de muitas coisas e compartilhar nossos bens exteriores e interiores (esmola), com uma generosidade ciente de que todos nossos dons e bens procedem de Deus. Diante de uma sociedade que valoriza o ser humano em função do que consome, o jejum revela que o ser humano é valioso em si mesmo, porque assim o é para Deus. O jejum real e sincero nos ajuda a fortalecer a liberdade interior frente às falsas necessidades.

Corresponde a cada um saber aonde lhe convém exercitar o jejum: jejum da palavra para aprender a escutar; – jejum dos pensamentos para viver no presente; jejum na utilização excessiva dos meios de comunicação (“smartfones” …) para permitir melhor comunicação presencial e afetiva; – jejum na comida, na roupa, na bebida, nos bens supérfluos; – jejum de ressentimentos, tristezas, medos e outros sentimentos negativos para que a vida possa fluir com mais liberdade…

Assim, o jejum equivale a uma atitude de despojamento que se contrapõe frontalmente com as tentações de Jesus no deserto (Evangelho) interpretadas à luz do secularismo do “ter”, do “prazer” e do “poder”! Despojar-se é deixar espaço interior para os outros e para Deus. É buscar a espiritualidade da transparência: sermos homens e mulheres em quem os outros possam contemplar a bondade de Deus, porque todos os bens descem do Alto. Tudo é graça!

[Fontes: "A Palavra de Deus no Anúncio e na Oração” e “Palavra de Deus e Nova Evangelização” / adaptação: Wilson].

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