Na 1ª Leitura desse domingo, o profeta Zacarias falando ao povo judeu do Antigo Testamento, descreve um tempo em que Deus derramará sobre os habitantes de Jerusalém “um espírito de graça e de oração”. Mas essa consolação será perturbada pela morte cruel de um personagem misterioso, sobre o qual Zacarias afirma: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo!”. A profecia é a prefiguração da morte de Cristo na Cruz.
No Evangelho da missa, a profecia é confirmada pelo próprio Cristo que expressa aos discípulos o primeiro anúncio de sua Paixão. O anúncio é precedido por uma pergunta que Jesus lhes dirige:” Quem diz o povo que eu sou?”. Os discípulos respondem: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. Jesus então os interroga diretamente: “E vós, quem dizeis que eu sou?” É preciso lembrar que, passado o entusiasmo popular dos primeiros tempos quando todos “seguiam” o Mestre deslumbrados pelos seus milagres, os apóstolos viviam agora um ambiente de conspiração contra Jesus, procedente dos escribas e fariseus. Pedro então responde: “Tu és o Cristo de Deus. Jesus então o proíbe de contar isto a alguém e fala pela primeira vez de sua paixão: “O Filho do Homem deve sofrer muito … e será morto”. Para os discípulos, que como os seus compatriotas pensavam unicamente num Messias-rei e triunfante, tal revelação foi duríssima. Mas Jesus não volta atrás e ainda acrescenta que também eles deverão passar pelo caminho do sofrimento: “Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
Quem quiser ser seu discípulo há de imitá-lo e não uma só vez, mas “cada dia”, renunciando a si mesmo para se conformar com o Mestre.
A pergunta de Jesus – ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ – continua atual, com relação a nossa adesão à pessoa d’Ele: Quem é Jesus para mim? Pergunta instigante que nos ajuda a captar a originalidade da Sua vida, a escutar a novidade do Seu chamado, a deixar-nos atrair pelo Seu projeto, contagiar-nos por Sua liberdade e empenharmos por viver o Seu caminho.
“Todos vós batizados em Cristo – diz São Paulo – vos revestistes de Cristo” (2ª Leitura). Jesus quer tornar nova a nossa vida e, para isso, torna-se necessário que deixemos a nossa para vivermos a Vida dele: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,24).